Novo roteiro a pé por Belo Horizonte leva visitantes aos locais onde 'Menino Maluquinho - O filme' foi gravado
Dirigido por Helvécio Ratton e inspirado no clássico de Ziraldo, longa completa 30 anos de lançamento em 2025
A Lagoa da Pampulha e seu conjunto arquitetônico, as delícias do Mercado Central, a Praça da Liberdade e seus museus... A lista de atrativos de Belo Horizonte é longa e variada, mas a capital de Minas Gerais sempre reserva surpresas fora do roteiro tradicional para quem se dispõe a subir e descer suas ladeiras. Como uma rua bucólica que parece parada no tempo e um “tobogã” em plena avenida principal da cidade. São lugares como estes que fazem parte do roteiro “BH Maluquinha”, que leva os visitantes a lugares que serviram de locação para “Menino Maluquinho — O filme”, cujo lançamento completa 30 anos em 2025.
Realizado pela BH a Pé, uma empresa especializada em caminhadas guiadas temáticas pela cidade, o tour terá sua edição inaugural no próximo sábado, 5 de abril. A data foi escolhida por ser a véspera do primeiro aniversário de morte de Ziraldo, autor do clássico da literatura infantil em que foi baseado o longa de Helvécio Ratton.
— Esse filme marcou a minha infância, desde o momento das filmagens, que eu acompanhei com uns 8 anos — conta Rafael Sette Câmara, jornalista e escritor que idealizou o roteiro e criou a BH a Pé em 2020, ao lado da mulher, a também jornalista Luísa Dalcin.
“BH Maluquinha” será o oitavo roteiro oferecido pela empresa, e haverá ao menos uma saída mensal. O preço será de R$ 75 por pessoa e os ingressos pode ser comprados pela plataforma Sympla ou pelos contatos na página do Instagram (@caminhadasbh). Há passeios como o que segue os passos dos escritores mineiros Fernando Sabino, Pedro Nava e Carlos Drummond de Andrade por BH, outro que explora os mercados Central e Novo, e até um inspirado no Clube da Esquina, com direito a cantora acompanhando o grupo e seis horas de duração.
O roteiro “BH Maluquinha” é bem mais curto, não passa muito de duas horas de duração, garante Sette Câmara. Durante todo o trajeto, o casal conta as histórias da produção, relembra cenas, lê trechos de “O Menino Maluquinho” e fala sobre a importância de Ziraldo para a cultura brasileira.
— As filmagens ocorreram em diversas regiões da cidade. Mas, como a nossa ideia é fazer tudo a pé, escolhemos focar na região Centro-Sul — conta Sette Câmara, lembrando de lugares que ficaram de fora, como a Lagoa da Pampulha, o Parque do Papa, a chocolateria Lalka, no Centro, e, claro, Tiradentes, onde foram filmadas as cenas das férias de Maluquinho na casa do avô.
O ponto de encontro é às 9h, na Praça Milton . De lá a primeira parada, após uma caminhada de cinco minutos pelo bairro Serra, é o Colégio Sagrado Coração de Maria. O imponente prédio, de 1930, aparece em diversas cenas do filme e até suas grades são reconhecíveis pelos fãs da produção.
Mais uma caminhada leva o grupo ao local de uma das cenas mais emblemáticas do filme, o Tobogã da Contorno. Esse é o apelido dado a um trecho da Avenida do Contorno, na altura da região da Savassi. Nesse conhecido declive de Belo Horizonte foi filmada a cena em que Maluquinho, Bocão, Julieta e outros amigos descem a ladeira a bordo de carrinhos de rolimã, ao som da canção “Menino Maluquinho”, de Milton Nascimento — uma atividade lúdica demais para o trânsito pesado da vida real.
A Rua Fernandes Tourinho, na Savassi, é outra parada do grupo, que verá o local onde ficava a livraria onde a mãe de protagonista, interpretada por Patrícia Pillar, trabalhava. O itinerário segue para o bairro vizinho de Santo Antônio, onde foram filmadas muitas cenas do longa. Algumas locações já estão bem diferentes, vítimas do passar do tempo — aquele que nem o goleiro Maluquinho conseguiu agarrar, como contou Ziraldo em seu livro. É o caso do lugar da brincadeira do "pau de melado", um dos momentos mais lembrados do filme de 1995.
As filmagens aconteceram em frente a um terreno vazio, na esquina das ruas Nunes Vieira e Mar de Espanha. A grade, que permitia ver os prédios da cidade ao fundo, foi substituída por um muro, e o lote ganhou um prédio de quase 20 andares, bloqueando de vez a paisagem.
Por sorte, o cenário mais emblemático do filme segue quase do mesmo jeito. Ponto final do roteiro, a Rua Congonhas, também em Santo Antônio, foi a escolhida pelo diretor para representar o endereço da casa de Maluquinho e o palco de boa parte das brincadeiras de rua com seus amigos.
O trecho entre as ruas Leopoldina e Santo Antônio do Monte ainda preserva 13 casas de 1924, que fazem parecer que o lugar ficou parado no tempo, algo ideal para uma locação que precisava emular a Belo Horizonte dos anos 1960, como a retratada no longa. Depois de anos abandonado e até com risco de desabamento, este pequeno conjunto arquitetônico foi recuperado por uma construtora, que ergueu um condomínio no terreno de trás.
Neste ponto, Sette Câmara lê para o grupo trechos de textos de escritores mineiros, como Fernando Sabino, Henriqueta Lisboa e Conceição Evaristo, que falam sobre a infância, e amarra tudo com palavras de um ilustre morador daquele quarteirão.
— Guimarães Rosa morou numa dessas casas, e aproveitei esse fato histórico para buscar um trecho do livro “Manuelzão e Minguilim”, em que ele fala sobre a infância e o processo do crescimento, que é o mesmo assunto de que “O Menino Maluquinho” também trata, à sua maneira — diz.