segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Ziraldo: Tributo a Caratinga


A FESTA

Digamos que até agora, depois daquele fim de semana mágico que passei na minha terra, eu tenha ficado mudo. Ainda que sem voz, posso dizer que nunca- que eu tenha notícia – vi ninguém receber tanto carinho, tanto afeto e de tanta gente. No meio das festas, eu me perguntava, perplexo, se tudo aquilo estava acontecendo de verdade. E me dizia, como se pudesse dizer a todos que passavam diante de mim, “Menos, gente, menos!”
Estou escrevendo para o meu povo de Caratinga, vocês viram, eu não estou exagerando. Completar esses oitenta anos de vida tem sido, para mim, uma – digamos – avalanche de sensações nunca vividas nesta intensidade. Apenas, agora, foi possível sentar-me à frente da minha velha Olivetti-98 para escrever-lhes estas mal traçadas linhas – que era como se dizia quando parti daí para enfrentar o mundo.

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Eu me lembro de cada casa do Barro Branco, desde a ponte da
estação até o final da rua São José; desde a praça do jardinzinho com seu sobradão da prefeitura que deu lugar à Rua dos Viajantes e, depois ao Cine Brasil (com sua fachada art deco, tão preservável quanto foi, um dia, o velho coreto do jardim grande, também peça rara da art deco brasileira), até à rua das Ameixas; desde à casa do meu velho tio Esaú, quase embaixo da Pedreira do Silva até à igrejinha de Santo Antônio, pela rua Raul Soares ou pela João Pinheiro do meu ginásio Caratinga.
Vou me lembrar, portanto, de tudo que aconteceu aí naquela manhã
solar de domingo. Vou me lembrar da carinha de cada menina, de cada menino, vestidinhos de azul e branco, me olhando lá do asfalto e, com gestos candentes, me dizendo, em nome de uma cidade inteira: “Oh, como é grande o meu amor por você.”
Sem falar uma só palavra eles me diziam isto em nome de uma cidade inteira. No palanque, chorava todo mundo. No asfalto, também, dava para ver o brilho nos olhos de professoras e professores. Foi assim com todas as escolas que se apresentaram, tudo feito com um cuidado extremo e – não me canso de louvar – com uma criatividade que me encheu de orgulho. O povo de Caratinga é assim: inventa. E isto é a melhor qualidade de um povo. E vieram de longe, crianças de outras plagas que me comoveram pelo olhar, pelo canto, pela cumplicidade. Nunca vi, repito, tanta invenção, tanta criatividade, todo mundo se recusando a comprar
feito, dando pra imaginar a possibilidade de, um dia, adentrarmos –
Caratinga inteira – o Sambódromo do Rio de Janeiro pra disputarmos, com o Paulo Melo, as notas 10 do desfile das Escolas do Grupo Especial.

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A Marilene – que figuraça! – fez a mais bela festa da minha vida.
Cometeu um errinho, apenas: até agora não me mandou, para que eu possa fazer meus agradecimentos pessoais – como prometeu – os nomes de cada escola, de cada professora, de todas as nossas amigas e amigos que se envolveram, com entusiasmo e dedicação com a festa que ela inventou.
Da mesma maneira, o meu outro anjo da guarda de Caratinga, ainda
não mandou os nomes das amigas que ela “alugou” pra fazer a maravilhosa coleção de pratos – que, no meu tempo, a gente chamava de comidinhas – da minha infância para que eu pudesse encantar meus amigos de fora que estiveram aí para a festa – e que já vieram aqui em casa ou receberam sua parte de carne de lata, de cabrito ensopado, de taioba e dos doces que são os ingredientes daquilo que sempre alimentou a minha alma de provinciano.
Obrigado, Analzira – outra figuraça! – por todo o carinho que você
sabe dar a quem você ama. Além de ser muito bom esse carinho ele faz com que a gente não se esqueça nunca da querida Emi, grande mãe dessa menina maluquinha.

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Eu me lembro, Marilene, da filha do Geraldo Godinho, indo pra escola toda sorridente e saltitante. Nunca vou me esquecer do seu pai, morenão, caladão, com aquele jeitão de mexicano sem sombrero, uma memória tão viva. Fiquei muito feliz quando descobri que uma das meninas dele, com cara de minha prima, tinha virado escritora e que, como eu, tinha como público, as crianças do Brasil. Você sabe conversar com elas, Marilene! Por esta razão todos ouvem você que, com esse talento, com essa sua imensa criatividade, pode se gabar de dizer para todos que é a maior festeira do mundo. Todos os parentes e amigos meus que foram pra
festa, a turma do Pererê, o Galileu e a Glorinha, o Pedro Vieira e a Cleusa, o Alan Viggiano e a Betty, o Paulo Nogueira e a Lucy, meus velhos amigos e minhas ”cunhadas” não vão esquecer nunca sua imagem comandando a festa lá do alto do palanque. No fundo, dizendo pra você mesma, emocionada: “Nossa mãe! Tudo isto foi eu que inventei?”
Muito obrigado, Marilene, muito obrigado. Eu te amo.

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E te amo, amo mesmo, Analzira. Vocês duas são diferentes em temperamento mas têm a mesma grandeza interior, a mesma dimensão humana que faz de cada uma de vocês um ser único, muito especial.
Vocês vão virar o tipo inesquecível – olha eu mexendo na minha coleção de Seleções, que deixei em algum armário às margens do rio Caratinga – de todos aqueles que tiveram a felicidade de conhecê-las e de conviver com vocês; de provar da extraordinária determinação e generosidade da Marilene e da dulcíssima “piração” da Analzira.

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Caratinga é a única cidade de Minas que mantém seu coração aberto para quem sai daí para lutar pela vida em terras estranhas. Cheios de saudade, a gente sabe que pode voltar porque, ao chegar aí, vai ouvir uma voz cantando em seu louvor. E a voz será a do Agnaldo Timóteo, meu irmãozinho da rua Nova, filho do ferreiro Zé Hortêncio.
Como eu era neto do Sêo Hortêncio, também ferreiro, outro mulato
com a pele também colorida pelo vitiligo, as pessoas achavam que éramos primos. Naquele dia feito de sustos, Agnaldo surgiu de repente, na avenida, como quem cai do céu e, com aquela voz poderosa e límpida, cantou para a cidade, para mim e por nossa infância. Depois sumiu, como fazem os anjos que sabem que não devem misturar-se aos mortais depois de cada milagre.
Grande Agnaldo, muito obrigado!
Sei que vou esquecer os nomes de muita gente a quem devo mais
carinho ainda. Bem, vou escrever mais se, corajosamente, continuarem a me dar espaço e mandar meu agradecimento pessoal assim que as minhas meninas – que ainda devem estar cansadas da trabalheira – me mandarem a famosa lista.
Não posso, porém, deixar para depois meu agradecimento ao Edra,
o inventor do Ziraldo. Como diria o Jaguar: “Eu não existo; sou uma invenção da mente doentia do Edra!” Muito obrigado, parceiro, muito obrigado pela fantástica exposição de repercussão nacional que você fez aí e muito obrigado por ter inventado a Casa Ziraldo de Cultura. 
Muito obrigado meu compadre Humberto Luiz, sofrendo com o medo da festa não dar certo. Muito obrigado, Prefeito João Bosco pela restauração da estátua do Menino Maluquinho, única no mundo, e por abrir todos os seus espaços para que minha festa acontecesse. Muito obrigado ao Cláudio Leitão, que chorou comigo o tempo todo naquele palanque; muito obrigado, também, à irmãzinha dele, a menina Miriam, que nunca me abandona e que, mesmo sendo a maior jornalista econômica do Brasil, desce dos seus cuidados e, mais uma vez, desfila pra mim como desfilou em São Paulo, cheia de charme e alegria, no carro da Neném de Vila Matilde. Como, aliás, fez uma grande parte do animado povo de Caratinga que voltou mais uma vez à avenida, no último carnaval, para desfilar às 4 da madrugada com os sambistas da Tradição. 
Ô, povo animado, meu Deus!
E tem mais: muito obrigado Rinaldo Grossi. Estou vendo na minha
memória, a figura do seu pai, um jovem magrinho e ágil, de cabelo bem partido e bigodinho fino, tão educado quanto o Zé Alencar ou o Wantuil, atendendo as freguesas no balcão do Aparício Costa no Barro Branco. Meu avô o chamava de menino danado, sem imaginar que ele ia acabar prefeito da cidade, o Sêo Dário, simpático e bonachão. Obrigado ao Rinaldo e ao Zé Geraldo por terem nos levado e trazido, sãos e salvos, de volta pra casa, felizes como poucas vezes estivemos em nossas vidas.

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Aproveito a ocasião para agradecer aos fados e aos anjos que movem a máquina do mundo. E a Deus também que, como nós brasileiros sabemos, é um cara gozador. Tanto que pra me botar no mundo tinha o mundo inteiro mas achou muito engraçado – cheio de graça – me botar feliz na província, bem no interior deste país gigantesco. 
Muito obrigado, Chefe, por ter decidido que esta província seria Caratinga.

(Ziraldo)

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Nossa Cidade - Ziraldo 80 Anos em Caratinga - Parte I



Programa exibido pela Doctum TV sobre a festa em comemoração dos 80 anos de Ziraldo em Caratinga com depoimentos de pessoas que são ligadas a ele na cidade.

Nossa Cidade - Ziraldo 80 Anos em Caratinga - Parte II



Programa exibido pela Doctum TV sobre a festa em comemoração dos 80 anos de Ziraldo em Caratinga com depoimentos de pessoas que são ligadas a ele na cidade.

Nossa Cidade - Ziraldo 80 Anos em Caratinga - Parte III



Programa exibido pela Doctum TV sobre a festa em comemoração dos 80 anos de Ziraldo em Caratinga com depoimentos de pessoas que são ligadas a ele na cidade.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Caricaturas em Homenagem aos 80 Anos de Ziraldo na Exposição "Ao Mestre Com Carinho"

O homenageado Ziraldo, abraça o cartunista Edra, realizador do Salão de Humor de Caratinga





















Trabalhos expostos na Casa Ziraldo de Cultura

Com o tema "Ao Mestre Com Carinho", foi aberto o XII Salão Internacional de Humor de Caratinga no último sábado, 27, exibindo 140 caricaturas do Ziraldo, enviados por artistas de todo Brasil e exterior, na Casa Ziraldo de Cultura, dentro das comemorações dos 80 anos do cartunista e escritor caratinguense. Na abertura aconteceu lançamentos de 5 livros e um DVD. 
A mostra continua aberta ao público, com entrada franca, até o dia 30 de novembro.