segunda-feira, 20 de junho de 2011

Caraúna Está na Praça

O livro tem o desenho de Zélio na capa

 Tenho um pensamento quanto ao meu último livro, lançado esses dias. Não é comum. Não foi escrito. Foi parido. Que nem as mães de antigamente faziam pra matar nossas curiosidades de como havíamos nascido: “te achei atrás das bananeiras”. Caraúna é feito de histórias reais e fictícias. Uma mistura de nada com tudo; de verdades com mentiras. Uma porção de cada coisa. Se os fatos e personagens existiram e existem; os nomes são todos de mentirinha.

O narrador, por exemplo, tem o agressivo nome de Mussolini como protesto à “criatividade” de pais que batizam os filhos com nomes esdrúxulos. Mussolini, o déspota italiano, é um deles. Já vi Hitler, Napoleão, Orozilina, Gasparina, Eneu, Dacileu. E por aí vai.

A finalidade, contudo, é a de qualquer livro meu: contar histórias, criar momentos de lazer, hábito de leitura. Caraúna é o contraponto de Caratinga; este na língua indígena, cará branco. Aquele, na imaginação autor, Caraúna – cara preto.

Já que este livro está cheio de meias verdades, ou inverdades partidas. Pari-o por diversão; catando alguns cacos de minha adolescência e de alguns amigos. Eu me diverti bastante ao escrevê-lo. Espero que vocês, também, se divirtam o mesmo tanto ao lê-lo. Mas não tentem encontrar em qualquer personagem fictícia o personagem verdadeiro que tenha vivido em Caratinga/Caraúna. Será impossível, diante de tantas histórias embaralhadas. Coincidências, entretanto, podem existir.

Deixei a cargo de meu primogênito, Alexandre – ou professor Santelmo como é conhecido no Colégio Santo Agostinho – a apresentação de Caraúna. E ele o fez com o coração e com a alma, plenos de gentileza, como garoto de ouro que sempre foi.

Leia: “Ao escrever Caraúna, o jornalista, produtor de televisão e rádio, comentarista esportivo, colunista, bloguista, escritor e meu pai, Flávio Anselmo. roteirizou aquele que deveria ser o seu primeiro romance. Projetou o contexto do livro baseado numa história humana, vivida por múltiplas personagens, numa cidadezinha do interior de Minas Gerais. De princípio, meio e fim.

Podem alguns afirmar que falta conteúdo ao roteiro, e que o livro não passa de coletânea de pequenas crônicas do autor, somatório de sua maior virtude como escritor. Acertam nesse aspecto, mas se esquecem do valor do livro, no seu conteúdo, roteirizando a imensa crônica cotidiana de uma cidade fictícia.

Com a devida vênia (meu pai jamais permitiria esta comparação, portanto a faço de viés) não era assim que Machado de Assis dar vida aos seus folhetins em colunas semanais de jornais para depois transformá-los em saborosos livros, unindo os personagens? O único personagem que FA reuniu na história sob o pseudônimo de “Dr. Mussolini” exemplifica como a solidão é grande amiga da criatividade, cuja capacidade de rebuscar no tempo, e nas memórias – suas e alheias – dão vida à uma alma cansada e que voltou ao seu passado real, nas suas origens, só para morrer em paz. E encontrou motivação para viver, contando histórias.

Meu pai desesperou-se à medida que lia o que descreveu e quase apagou todo arquivo. Por fim, fez o que, normalmente faz: colocou os originais em um arquivo no micro para ler no futuro. Talvez os mostrasse a alguém de sua confiança, talvez não. Sua feroz autocrítica prefere esconder os originais por longo tempo e, por fim, revê-los quando já quase não sobrevivem em sua memória.

Nessas horas, costuma perguntar: “eu escrevi isso?” Como jamais revisa seus textos, exceto os das colunas diárias sobre futebol, Flávio submete-os aos filhos: eu que sou professor de Educação Física do Colégio Santo Agostinho; Flávio Júnior, jornalista, e Juliana, empresária e professora de balé.

No caso de “Caraúna” tivemos aquela impressão de que se fez uma coletânea de crônicas descobertas nos jornais da época, nos quais Flávio começou a sua carreira jornalística há 50 anos. Rimos bastante das histórias e dos personagens. Gostamos do roteiro, do conteúdo e, principalmente, do surpreendente final.

Então, demos o veredicto: publique-se”.

Flávio Anselmo

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