quinta-feira, 31 de julho de 2014

Casa Ziraldo Homenageia Ex Jogador de Caratinga que Entrou Para História do Botafogo

Exposição sobre o ex jogador Marcelo Alves vai até o dia 30 de agosto

Marcelo Alves é homenageado em exposição 
 na Casa Ziraldo de Cultura 

CARATINGA – Fortaleza, 24 de setembro de 1995. Botafogo e Flamengo duelam pela nona rodada do Campeonato Brasileiro no gramado do Castelão. A partida é transmitida ao vivo pela Rede Globo. O Botafogo tinha bom time, mas vinha com uma campanha de altos e baixos. Derrotou Corinthians e Grêmio, mas tinha perdido para o Bragantino e empatado, em casa, com o Juventude. O Flamengo não vinha convencendo e considerou este jogo como sua arrancada. O ataque era formado por Sávio, Romário e Edmundo. Diante de 75 mil pessoas, Túlio Maravilha, aos 22min do primeiro tempo, fez 1 a 0 para o Botafogo. Gonçalves ampliou aos 13min da segunda etapa. Aos 41min do templo complementar, Edmundo diminuiu o placar, deu esperanças aos rubro- negros e o time da Gávea partiu para cima do Botafogo. Mas aos 46min, Túlio deixou de calcanhar, o meio- campista Marcelo Alves, camisa 15, que entrara no decorrer da partida, tirou do adversário e mandou a bola para o fundo das redes do goleiro Paulo César Borges. Final: Botafogo 3 x 1 Flamengo. Esse foi o passo mais importante para que a equipe de General Severiano ganhasse confiança e conquistasse o campeonato brasileiro daquele ano. O caratinguense Marcelo Alves fez parte daquele grupo vencedor e entrou para a história do time da Estrela Solitária; história essa que é muito rica e tem nomes como Heleno de Freitas, Garrincha, Didi, Nilton Santos, Gerson e Quarentinha. 
Agora Caratinga homenageia Marcelo Alves. Sua trajetória futebolística esta sendo mostrada na Casa Ziraldo de Cultura na exposição ‘Marcelo Alves – O nosso campeão brasileiro’. “É uma grande honra ser homenageado em nossa terra. Ser reconhecido pelo trabalho que fiz. Agora estou revivendo tudo, como a alegria de ter jogado com grandes jogadores, caso de Bebeto, Túlio, Gonçalves, Wilson Gottardo e poder jogar em palcos como Maracanã e Morumbi. Foi um sonho de criança que pude realizar. Consegui jogar num grande clube, consegui títulos. Hoje sou lembrado nas redes sociais por esses feitos”, comenta o homenageado num tom de voz que mistura emoção e orgulho de um passado vencedor. 
Marcelo Alves agradece ao Produtor Cultural Edra, diretor da Casa Ziraldo de Cultura não só pela homenagem, como também pelo resgate de muitos fatos ligados a história caratinguense. “É muito bacana o trabalho que o Edra esta fazendo à frente da Casa Ziraldo de Cultura, resgatando essa história. Já tem 19 anos que fui campeão brasileiro. Isso também serve também para informar o pessoal de Caratinga que, às vezes, nem sabe que tem um conterrâneo campeão brasileiro de futebol”. 

DO TERREIRO DE CASA PARA O MARACA 

Quando criança Marcelo Alves tinha o sonho de ser jogador de futebol. Ele jogava bola no terreiro de sua casa e imaginava ser um astro do futebol. “Todo menino faz isso. Na hora da pelada, diz que é o ídolo dele. Sempre sonhei em ser jogador de futebol profissional, só não esperava chegar aonde cheguei. Fui mais longe do que esperava”, revela Marcelo Alves. E o sonho começou a se tornar realidade em 1990, quando Carlinhos Careca, de Santa Rita de Minas, levou Marcelo Alves para fazer um teste no Democrata, de Governador Valadares. Quem assistiu este teste foi técnico Barbatana (N.E.: Nascido em Ponte Nova, João Lacerda Filho, o ‘Barbatana’, teve sua carreira ligada ao Atlético Mineiro. Em 1977, ele dirigiu o time que foi vice-campeão brasileiro). Marcelo Alves foi o destaque do teste. Quando acabou o treino, Barbatana falou para o diretor do Democrata: “vocês vão ficar com aquele garoto? Se não forem ficar com ele, vou levá-lo comigo. Ele tem nível pra jogar no Atlético ou no Cruzeiro”. Após ouvir essas palavras, o diretor do time valadarense tratou logo de pedir a documentação de Marcelo Alves e inscrevê-lo. Quando as portas se abriram, Marcelo Alves recorda que ficou receoso. A saudade da família poderia ser um problema. “Na hora surgiu àquela dúvida. Era longe de casa e tive certo receio. Acabei ficando e o Barbatana foi quem me apadrinhou. Joguei apenas um ano no júnior e depois subi para o profissional”, relembra Marcelo Alves. 
No Democrata, Marcelo Alves foi quatro vezes campeão mineiro do interior. Sua estreia foi no Campeonato Mineiro de 1991 contra o Atlético Mineiro. Sergio Araújo marcou o gol do Galo, enquanto Marcelo Alves empatou a partida, anotando logo seu primeiro jogo oficial. Em 1995, jogando a Copa do Brasil pelo Democrata, Marcelo Alves despertou o interesse de um empresário que o levou para o Botafogo de Futebol e Regatas. No time da Estrela Solitária, o caratinguense, além do Campeonato Brasileiro de 1995, ajudou o clube a vencer o Campeonato Carioca de 1997 e o Torneio Rio-São Paulo de 1998. O título internacional conquistado por Marcelo Alves foi em 1996, quando o Botafogo venceu o Troféu Teresa Herrera, disputado em Coruña, Espanha. Na final, a equipe brasileira derrotou, nos pênaltis, a poderosa Juventus de Turin, então campeã da Champions League, após um empate em 4 a 4 no tempo normal e prorrogação. Nesta partida, Marcelo Alves teve a oportunidade de jogar contra nomes renomados do futebol mundial, caso do francês Deschamps e dos italianos Del Piero e Vieri. Marcelo Alves conta como foi sua chegada ao Botafogo. “O Paulo Autuori estava assumindo o Botafogo. Ele reuniu o grupo e colocou o objetivo de ser campeão brasileiro. Estava montando o time para esse feito. Donizete Pantera e Gonçalves chegaram na mesma época. Então criou-se uma família visando o título de campeão brasileiro”, pondera. Para Marcelo Alves, não tem como esquecer o 24 de setembro de 1995. Ele classifica o jogo contra o Flamengo como crucial para a conquista alvinegra. “Este jogo foi inesquecível pra mim. Vencemos a partida e ganhamos convencendo. Então, o treinador Paulo Autuori pegou aquele jogo como parâmetro para darmos sequência ao campeonato. O time cresceu, o conjunto ficou mais forte e culminou com a gente levantando o troféu de campeão”. Após 27 jogos, com 14 vitórias, nove empates e quatro derrotas, no dia 17 de dezembro de 1995, o Botafogo de Futebol e Regatas sagrou-se campeão brasileiro diante do Santos. 
Em 1999, Marcelo Alves foi emprestado ao Joinville. Depois jogou no ABC de Natal (2000), Brasiliense (2001) e Olaria (2002 e 2003). Ele também defendeu o Sampaio Corrêa. Após contusões que prejudicaram o seu desempenho em campo, Marcelo Alves deixou os gramados. 

 VIDA APÓS O FUTEBOL 

O ex-jogador e, hoje, comentarista Paulo Roberto Falcão disse que “o jogador de futebol morre duas vezes. A primeira, quando para de jogar”. Marcelo Alves concorda com Falcão e conta como foi sua experiência ao findar a carreira de jogador de futebol profissional. “É uma declaração feliz. Ficamos meio blindados no mundo do futebol, pois temos uma vida com certa fartura e não nos preparamos para podermos encerrar a carreira. Nossa vida profissional vai seguindo e deixamos nos levar. Então, não percebemos que tá chegando o final da carreira. Muitas vezes ouvimos: ‘isso não dura pra sempre’, mas não nos preparamos. Então, quando encerramos a carreira, finda um ciclo, pensamos: acabou, morreu”, relata o ex-jogador. Para não sentir saudades dos gramados, Marcelo Alves ficou três anos sem ir aos estádios. Foi uma espécie de ‘desintoxicação’. “Tive que fazer isso para poder voltar à vida normal. Existem casos onde jogadores, após encerrar a carreira, tem depressão ou entram no alcoolismo e nas drogas. Temos que aproveitar nosso tempo. A idade chega pra todos. Acho que dos 32 anos pra frente, o jogador deve se preparar, porque ali começa o final de sua carreira”, aconselha Marcelo Alves. Hoje Marcelo Alves mora em Caratinga, onde é comerciante. No livro Bem-Vindo ao Clube (2001), lançado no Brasil pela Editora Record, o autor inglês Jonathan Coe escreveu: “Imagino se toda existência pode ser mesmo destilada até restarem alguns poucos momentos extraordinários, talvez seis ou sete deles, concedidos a nós durante a vida inteira”. 
Pelo jeito Marcelo Alves teve mais sorte do que a maioria dos mortais, ele tem vários ‘momentos que valem uma vida’. Mais do que isso, ele entrou para história de um time e sua apaixonada torcida. Isso é para poucos. 

 Fonte: Diário de Caratinga / Edição de 27 de julho de 2014
Texto: Horta / Fotos: Wilson Martins

Marcelo Alves é o tema central da exposição

Cartunista Edra com o homenageado e ex craque do Botafogo

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