sábado, 26 de abril de 2025

ZIraldo - Um Ano Sem o ‘Senhor Maluquinho’



 Edra em sua "Ziraldoteca"

    A gigantesca imagem do “Menino Maluquinho” ainda está lá, alegre e irreverente, no Centro do Município de Caratinga, em Minas Gerais. Porém, os seus milhares de admiradores lembraram com devoção e tristeza do primeiro ano de falecimento do criador dela, o cartunista, jornalista e escritor Ziraldo Alves Pinto, no último dia 06/04. Muitas homenagens à sua memória, como a caminhada “BH Maluquinha” ocorrida no mesmo dia, em Belo Horizonte, certamente foram feitas não só no seu estado natal como também em todo o País. Porém, uma das lembranças mais importantes com certeza é a guardada por seu amigo, discípulo e admirador, o cartunista, EDRA (abreviatura do nome do também caratinguense Elcio Danilo Russo Amorim). 
     E foi exatamente no dia em que se completou o ano que EDRA abriu as portas do seu estúdio/ateliê no alto da Rua Geraldo Alves Pinto (nome dado em homenagem ao pai de Ziraldo), com a “Ziraldoteca”, a esse repórter para mostrar as dezenas de peças dele, com ele e alusivas ao artista. São desenhos e cartuns produzidos para diversos salões de cartunismo de Caratinga promovidos por EDRA, reportagens de diversos veículos de comunicação a respeito de um livro que ele próprio escreveu sobre Ziraldo, fotos deles em múltiplos eventos Brasil afora, momentos descontraídos e intimistas de Ziraldo. Enfim, um precioso e diversificado acervo artístico e cultural que o repórter estranhou ainda não estar aberto ao público. 
     Entre as muitas fotos do acervo, uma de EDRA, Ziraldo e o cantor Agnaldo Timóteo, outro caratinguense famoso a exemplo, ainda, da jornalista Miriam Leitão e do escritor e biógrafo Rui Castro. As fotos desses quatro famosos, aliás, aparecem no grande painel que ilustra a entrada da “Casa Ziraldo”, na Rua Governador Benedito Valadares (ex-governador de Minas Gerais que dá nome ao Município). Até a panela de alumínio que virou símbolo de irreverência na cabeça no “Menino Maluquinho” está lá, na “Ziraldoteca”, espetada. Há, ainda, cartuns das 19 edições do “Salão Internacional do Humor de Caratinga” (dos quais Ziraldo participou de quase todos, cuja 20ª edição está sendo preparada), troféus como o da “Turma do Pererê” e livros a exemplo de “Mineirinho Comequieto”. 
     São dois salões repletos de peças que EDRA diz só abrir à visitação de amigos, admiradores e imprensa. Tantas peças que o nosso espaço seria insuficiente para citá-las e enumerá-las individualmente. EDRA, por sinal, ocupa a cadeira que leva o nome de Ziraldo na Academia Caratinguense de Letras (ACL). E foi o responsável pela criação, com requerimento à Câmara Municipal, do “Dia Ziraldo”, que se comemora no Município na data do seu nascimento (24/10). A “Casa Ziraldo de Cultura”, que é administrada pela Prefeitura e encontra-se temporariamente fechada em função de questões administrativas devido à recente troca do governo municipal, existe há 15 anos (criada em 27/11/2010). Também criou a “Casa Ziraldo de Cultura.blogspot. com”. 
     Mas EDRA não é apenas um admirador, discípulo e colecionador de obras de Ziraldo. Ele possui uma vasta produção artística própria. É cartunista premiado em vários eventos nacionais e internacionais, e esteve inclusive no Irã. Produz desenhos para revistas e outras publicações. Entre suas obras destacam-se, além do livro “Ziraldo 85 — ao Mestre com Carinho”, que publicou em homenagem aos 85 anos de idade do cartunista, a organização do livro “90 Maluquinhos por Ziraldo – Histórias e Causos” com textos/depoimentos de personalidades. Entre eles estão escritores e cartunistas como: Luís Fernando Veríssimo, Luís Pimentel, Maurício de Sousa, Miguel Paiva, Aroeira, Zuenir Ventura e Ana Maria Machado. E ele está trabalhando num novo projeto literário sobre o qual pede sigilo.                    Embora seguidor e inspirado em Ziraldo, ele tem o seu próprio traço e estilo que desenvolve com extrema maestria e facilidade. Além de cartunista é produtor cultural, design gráfico, jornalista e editor. Tem 36 livros publicados. Prova disso é o desenho relâmpago que fez na dedicatória do livro que ofertou a esse repórter. E estranhou, por sinal, que mais nenhum jornalista e/ou órgão de imprensa tenha comparecido para fazer alguma reportagem lembrando a passagem do primeiro ano de falecimento de Ziraldo na cidade. 
     EDRA lembra que no dia do falecimento do ídolo e amigo ele e outros amigos se preparavam para fazer um churrasco. O que naturalmente foi cancelado em virtude da triste notícia. “Alguns ainda ligaram para mim a fim de confirmar se a notícia era verdadeira mesmo. O que infelizmente era”, ressalta o cartunista. O que faz lembrar uma frase que Ziraldo costumava dizer: “se eu morrer, quero morrer jornalista”. Não morreu “jornalista”, nem “cartunista”, tampouco “escritor”, pois ele e suas obras são mesmo eternas. 

Evaldo Nascimento / Jornal Folha da Terra







Cartunista Edra e o jornalista Evaldo Nascimento

sexta-feira, 4 de abril de 2025

Biblioteca Parque Poderá se Chamar "Biblioteca Estadual Ziraldo Alves Pinto".


 

    Biblioteca Parque poderá se chamar "Biblioteca Estadual Ziraldo Alves Pinto". A Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) aprovou nesta terça-feira (1º) o Projeto de Lei 3.423/24, de autoria do deputado Vitor Júnior (PDT), que propõe a alteração do nome da Biblioteca Pública Parque Estadual para Biblioteca Estadual Ziraldo Alves Pinto. 
    A proposta passou em primeira discussão e ainda precisará de uma segunda votação para ser confirmada. A homenagem é dedicada ao escritor e desenhista Ziraldo, nascido em Caratinga (MG), em 1932, e falecido em abril de 2024, aos 91 anos. 
    Aos 16 anos, Ziraldo se mudou para o Rio de Janeiro, onde iniciou sua trajetória como ilustrador. Foi pioneiro nas revistas em quadrinhos brasileiras com a criação da Turma do Pererê, em 1960, e tornou-se referência na literatura infantil com obras como Flicts e O Menino Maluquinho. 
    “A homenagem se dá por reconhecimento no cenário cultural brasileiro de sua genialidade e criatividade, que permeiam o imaginário infantil de várias gerações e por reconhecimento à sua obra, que é considerada um clássico e parte do cânone cultural do Brasil”, afirmou Vitor Júnior

BH a Pé' Lança Passeio ‘BH Maluquinha’ em Homenagem a Ziraldo



 

    Novo roteiro a pé por Belo Horizonte leva visitantes aos locais onde 'Menino Maluquinho - O filme' foi gravado Dirigido por Helvécio Ratton e inspirado no clássico de Ziraldo, longa completa 30 anos de lançamento em 2025 
     A Lagoa da Pampulha e seu conjunto arquitetônico, as delícias do Mercado Central, a Praça da Liberdade e seus museus... A lista de atrativos de Belo Horizonte é longa e variada, mas a capital de Minas Gerais sempre reserva surpresas fora do roteiro tradicional para quem se dispõe a subir e descer suas ladeiras. Como uma rua bucólica que parece parada no tempo e um “tobogã” em plena avenida principal da cidade. São lugares como estes que fazem parte do roteiro “BH Maluquinha”, que leva os visitantes a lugares que serviram de locação para “Menino Maluquinho — O filme”, cujo lançamento completa 30 anos em 2025. Realizado pela BH a Pé, uma empresa especializada em caminhadas guiadas temáticas pela cidade, o tour terá sua edição inaugural no próximo sábado, 5 de abril. A data foi escolhida por ser a véspera do primeiro aniversário de morte de Ziraldo, autor do clássico da literatura infantil em que foi baseado o longa de Helvécio Ratton. 
     — Esse filme marcou a minha infância, desde o momento das filmagens, que eu acompanhei com uns 8 anos — conta Rafael Sette Câmara, jornalista e escritor que idealizou o roteiro e criou a BH a Pé em 2020, ao lado da mulher, a também jornalista Luísa Dalcin. “BH Maluquinha” será o oitavo roteiro oferecido pela empresa, e haverá ao menos uma saída mensal. O preço será de R$ 75 por pessoa e os ingressos pode ser comprados pela plataforma Sympla ou pelos contatos na página do Instagram (@caminhadasbh). Há passeios como o que segue os passos dos escritores mineiros Fernando Sabino, Pedro Nava e Carlos Drummond de Andrade por BH, outro que explora os mercados Central e Novo, e até um inspirado no Clube da Esquina, com direito a cantora acompanhando o grupo e seis horas de duração. 
    O roteiro “BH Maluquinha” é bem mais curto, não passa muito de duas horas de duração, garante Sette Câmara. Durante todo o trajeto, o casal conta as histórias da produção, relembra cenas, lê trechos de “O Menino Maluquinho” e fala sobre a importância de Ziraldo para a cultura brasileira. 
    — As filmagens ocorreram em diversas regiões da cidade. Mas, como a nossa ideia é fazer tudo a pé, escolhemos focar na região Centro-Sul — conta Sette Câmara, lembrando de lugares que ficaram de fora, como a Lagoa da Pampulha, o Parque do Papa, a chocolateria Lalka, no Centro, e, claro, Tiradentes, onde foram filmadas as cenas das férias de Maluquinho na casa do avô. 
     O ponto de encontro é às 9h, na Praça Milton . De lá a primeira parada, após uma caminhada de cinco minutos pelo bairro Serra, é o Colégio Sagrado Coração de Maria. O imponente prédio, de 1930, aparece em diversas cenas do filme e até suas grades são reconhecíveis pelos fãs da produção. 
    Mais uma caminhada leva o grupo ao local de uma das cenas mais emblemáticas do filme, o Tobogã da Contorno. Esse é o apelido dado a um trecho da Avenida do Contorno, na altura da região da Savassi. Nesse conhecido declive de Belo Horizonte foi filmada a cena em que Maluquinho, Bocão, Julieta e outros amigos descem a ladeira a bordo de carrinhos de rolimã, ao som da canção “Menino Maluquinho”, de Milton Nascimento — uma atividade lúdica demais para o trânsito pesado da vida real.
    A Rua Fernandes Tourinho, na Savassi, é outra parada do grupo, que verá o local onde ficava a livraria onde a mãe de protagonista, interpretada por Patrícia Pillar, trabalhava. O itinerário segue para o bairro vizinho de Santo Antônio, onde foram filmadas muitas cenas do longa. Algumas locações já estão bem diferentes, vítimas do passar do tempo — aquele que nem o goleiro Maluquinho conseguiu agarrar, como contou Ziraldo em seu livro. É o caso do lugar da brincadeira do "pau de melado", um dos momentos mais lembrados do filme de 1995. 
     As filmagens aconteceram em frente a um terreno vazio, na esquina das ruas Nunes Vieira e Mar de Espanha. A grade, que permitia ver os prédios da cidade ao fundo, foi substituída por um muro, e o lote ganhou um prédio de quase 20 andares, bloqueando de vez a paisagem. 
     Por sorte, o cenário mais emblemático do filme segue quase do mesmo jeito. Ponto final do roteiro, a Rua Congonhas, também em Santo Antônio, foi a escolhida pelo diretor para representar o endereço da casa de Maluquinho e o palco de boa parte das brincadeiras de rua com seus amigos. 
     O trecho entre as ruas Leopoldina e Santo Antônio do Monte ainda preserva 13 casas de 1924, que fazem parecer que o lugar ficou parado no tempo, algo ideal para uma locação que precisava emular a Belo Horizonte dos anos 1960, como a retratada no longa. Depois de anos abandonado e até com risco de desabamento, este pequeno conjunto arquitetônico foi recuperado por uma construtora, que ergueu um condomínio no terreno de trás. Neste ponto, Sette Câmara lê para o grupo trechos de textos de escritores mineiros, como Fernando Sabino, Henriqueta Lisboa e Conceição Evaristo, que falam sobre a infância, e amarra tudo com palavras de um ilustre morador daquele quarteirão. 
     — Guimarães Rosa morou numa dessas casas, e aproveitei esse fato histórico para buscar um trecho do livro “Manuelzão e Minguilim”, em que ele fala sobre a infância e o processo do crescimento, que é o mesmo assunto de que “O Menino Maluquinho” também trata, à sua maneira — diz.