Objetos antigos estão em exposição |
DE VOLTA AO PASSADO - Exposição que acontece na Casa Ziraldo de Cultura traz memória e cuidado com objetos raros
CARATINGA- Ferros de passar de roupa, incluindo à brasa; rádios; toca disco; secador de cabelo; pratos em porcelana; panelas; impressos; LPs; bicicletas; máquina de escrever; máquina fotográfica; aparelhos telefônicos; máquina de costura e muitos outros artigos. Tudo isso está à disposição do público desde a última segunda-feira (28), na Casa Ziraldo de Cultura.
A Jornada do Patrimônio Cultural de Minas Gerais propõe para este ano de 2017, o tema ‘Outros olhares sobre o patrimônio cultural’. Por isso, em Caratinga, o projeto é realizado com a exposição ‘De volta ao Passado’.
De acordo com Lourdes Rodrigues, diretora do Departamento de Cultura, o município fez a inscrição para participar com uma exposição de antiguidades, por acreditar na necessidade de divulgar objetos que trazem consigo a memória e a história. “A ideia foi o que o tema da Jornada esse ano é “Outros olhares para o patrimônio cultural”, então o que que nós pensamos, às vezes o olhar está voltado só para os bens imóveis, casarões antigos, arquitetura e esquecem de outros bens, considerados bens móveis e que também fazem parte da nossa memória”.
Outro ponto foi a valorização dos colecionadores, que cederam inúmeros objetos para ficarem expostos durante toda a semana. “É muito importante porque hoje em dia são raros e são pessoas que guardam tesouros em casa. A gente quis valorizar os colecionadores, inclusive até aproveito a oportunidade para agradecer e penso que eles merecem ser valorizados, porque eles valorizam aquilo que a gente guarda na memória”, acrescenta Lurdinha.
Ainda no segundo dia, a exposição já chamava atenção, principalmente de estudantes, que ficaram impressionados com as antiguidades. “Está sendo bem visitada, principalmente por crianças acompanhadas de adultos, onde o adulto explica para ela sobre aquele objeto, objeto que o adulto conheceu, mas a criança não teve oportunidade e está conhecendo agora. Os celulares então chamam muito atenção das crianças, porque elas não conheciam aqueles aparelhos grandes, que agora renovaram. Tudo tem chamado muito a atenção, bicicletas, temos uma daqui dos anos 50”.
OLHAR DE COLECIONADOR
“Tudo começou com essa pedrinha, que estou com ela aqui no bolso. Estava em Belo Horizonte, em 1981 e andando pelo quintal de um primo meu vi essa pedra no chão, achei bonita, até datei (30/10/81) e a partir disso aqui, guardei ela, fui achando outras coisas e comecei a colecionar. Virou essa paixão”. A recordação é de Jucelio Neves de Paula, 51 anos, motorista rodoviário, responsável por ceder a maioria dos objetos que estão em exposição. Esta já é a segunda vez que ele tem a oportunidade de participar de uma mostra com esta finalidade.
Mas, vida de colecionador não é fácil e o que eles entendem por cuidado com a memória, na maioria das vezes ganha outra interpretação para a sociedade. “O glamour todo está sendo hoje, porque a gente é visto como um ‘acumulador de lixo’. Passou, deixo de ser um colecionador e volto a ser aquele ‘acumulador de lixo’ de novo (risos)”.
É na garagem de casa, que Jucelio chama carinhosamente de ‘museu’, que todos os objetos ficam guardados. O espaço chama atenção e o colecionador sempre se mostra receptivo a quem tem curiosidade de conhecer o acervo. Mais que armazenar os objetos, o que pode parecer obsoleto tem utilidade para ele. “Fui convidado pela Lurdinha devido à quantidade de peças que possuo. E é um momento de poder mostrar isso aí, porque são peças raras que muitas pessoas não tiveram oportunidade até de viver isso. O toca disco mesmo, costumo passar música nele; as furadeiras estou sempre mexendo. Estou sempre cuidando, passando um paninho e comprando mais peças. Preciso mesmo é fazer uma área para conservar melhor”.
Para o colecionador, a exposição traz à mente dos visitantes que viveram aquela época um passeio ao passado. Já para quem não viveu aqueles momentos, é possível refletir que o passado é a base para entender os avanços atuais. “Certas coisas aqui são até difíceis de acreditar que foram usadas, são coisas muito rústicas, se for analisar por exemplo esses ferros, são coisas impensáveis nos dias de hoje. São coisas às vezes de 30 a 35 anos atrás, mas a evolução foi surgindo e essas coisas viraram coisas do passado, mas ao mesmo tempo é um passado recente. Isso prova que a evolução está sendo cada vez mais rápida”.
Os artigos também mostram o perfil do consumidor de acordo com a época. O que hoje está ao alcance das pessoas com as facilidades de pagamento e aumento do poder aquisitivo, pareciam distantes para a maioria da população, como observa Jucelio. “As pessoas até para darem valor às coisas de hoje, precisam ver essas coisas do passado, pois às vezes acham que tem alguma dificuldade, mas a questão toda foi lá atrás, as dificuldades que nós tivemos. Uma peça dessa por mais rústica que fosse, era caro para adquirir. Os ferros não eram acessíveis para todo mundo, até porque as pessoas guardavam roupas nesses baús, não passavam”.
A exposição segue até a sexta-feira (1º), no horário de 8h às 18h. Jucelio deixa o convite para este verdadeiro passeio pelo passado, que se mantém vivo pelo cuidado dos colecionadores. “Vale a pena. É uma oportunidade. E quem sabe as pessoas passam a ter esse hábito de guardar também, preservar a história. Imagina se eu e os outros colegas que estão expondo aqui não tivessem essa coragem, falo coragem porque a gente não é bem visto de ficar guardando essas coisas. Seria bom que as pessoas tivessem consciência de guardar. Até porque somos carentes de cultura na nossa cidade. É uma maneira de preservar a história”.
A maioria dos objetos expostos são do colecionador Jucélio |
Exposição vai até 1º de setembro |
Lourdes, Diretora de Cultura |
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